martes, 7 de abril de 2009

Mulheres em ação, eucaliptos no chão

por clarisse castilhos



primero en lengua brasilera


fotos : http://www.flickr.com/photos/27200362@N02/sets/72157615421559467/


Namorando a madrugada
Eu e minha namorada
Vamos andando na estrada
Que vai dar no avarandado do amanhecer
No avarandado do amanhecer

Noite de 08 de março de 2009. Um abraço apertado em algumas companheiras que reencontramos depois de um ano, outro na companheira que fica. E o ônibus parte ao encontro das outras. Pouco a pouco vai se afastando da cidade poluída e violenta e entrando na estrada enluarada por uma gorda lua cheia. Noite de bruxas. A noite prateada e o silêncio sugeriam sombras e imagens, a gente pensava nos companheiros e companheiras que ficaram em casa, nos despejos que aconteceram durante o ano, na repressão às escolas itinerantes, única opção de alfabetização e de educação para as crianças que são seguidamente arrancadas de seus acampamentos e jogadas em outros.
Mas não era a retaliação o que nos movia. Era o desejo de mostrar à sociedade que existem alternativas. Muitas alternativas. O desejo de levar à sociedade urbana, aos trabalhadores rurais- a peonada-, à classe média e aos trabalhadores das pequenas cidades, a compreensão de que o monocultivo não vai gerar alimentos para o povo brasileiro, nem vai originar uma sociedade cooperativa e solidária. Pior, certamente vai levar à miséria rural e urbana e à destruição ambiental. O coração apertava quando vinham as imagens da repressão do ano passado quando mais de 60 mulheres e crianças fomos humilhadas por palavras e fisicamente agredidas.
Imersas nesses pensamentos imaginamos as curvas sensuais das coxilhas do Sul, lambidas com delicadeza pela lua prateada. Porém, ao espiar pela janela, já na madrugada, estranhas e assustadoras sombras se erguiam, dominando a paisagem do pampa gaúcho. Lá onde antigamente haviam rios, lagoas e açudes, hoje está desfigurado pela escuridão mórbida das intermináveis fileiras de eucaliptos. Não os nossos velhos eucaliptos, plantados em pequena quantidade ao redor das casas, para conter o vento minuano. Não. Milhares de pés.
Apenas a empresa Votorantim Celulose e Papel possui 48 mil ha de monocultivo de eucalipto para exportação nessa região. Essas árvores consomem 30 litros de água por dia e ameaçam o aqüífero guarani pela contaminação com agrotóxicos e pelo esgotamento da reserva de água que alimenta parte do Cone Sul. Claro que essa fábrica de árvores é subsidiada pelo estado, claro que ameaça os assentamentos da região, por várias razões, e onde já se sente a escassez de água.
Saindo do asfalto penetramos na escuridão absoluta da fazenda Ana Paula, cujos 80 km da estrada precária que percorremos são ladeados por massas compactas de eucaliptos. Ao cabo de duas horas descemos, rompendo a escuridão da noite e sentindo o alvorecer em nossos corpos cansados. Apenas com nossas ferramentas de trabalho fomos enfrentar nossos inimigos. Não os eucaliptos, mas o sistema que os elegeu como a monocultura do momento, os homens sem escrúpulos que só querem tirar dinheiro da terra, o governo omisso que não pensa em novas alternativas. Isso num período de crise profunda, em que a produção de alimentos está ameaçada e as próprias produtoras de árvores estão enfrentando dificuldades, porque o dinheiro emprestado para a produção foi usado na especulação financeira.
Nossas risadas, as cores que trazíamos em nossas roupas, o brilho de nossos olhos, iluminaram aquele ambiente sepulcral, e muitas árvores tombaram sob os golpes de foices e facões. Um corte simbólico de uma centena de árvores que durou apenas uma hora.
A caminhada de volta, sob o sol já muito quente e sobre a terra totalmente ressequida, foi duro, mas nos permitiu a todas ver cada centímetro daquele interminável deserto verde. Compreender a expressão deserto verde. Nem um pássaro, nem um animal, nenhuma macega. Apenas árvores enfileiradas como numa linha de produção de automóveis.
No final dessa primeira caminhada nos sentimos mais protegidas, pois havia sinal de humanidade. Apertado entre as plantações de eucalipto, o assentamento estava lá. Acampamos na beira da estrada, e de lá podemos observar a diferença entre um modelo e outro. De um lado vida, solidariedade, do outro árvores mortas, transfiguradas pelo capital.
E tudo ocorreu como prevíamos. A brigada nos deteve na manhã seguinte e prendeu 5 companheiras e um companheiro. Por que? Porque precisam justificar sua ação contra nossa movimentação pacífica. Precisam escolher algumas, aleatoriamente, para se justificar frente ao poder dos oligarcas do Sul do estado, frente às ordens do capital multinacional. As outras foram identificadas e revistadas e encaminhadas nos ônibus para Candiota, onde passamos a noite. Nossa serenidade evitou qualquer agressão. Nossas companheiras foram liberadas e no terceiro dia, encerramos nossa atividade com uma caminhada por Bagé.

Da mesma forma que os eucaliptos, as pessoas formavam uma massa escura e silenciosa. Poucas pessoas ousavam ficar na beira da calçada só para bisbilhotar, como em qualquer cidade normal. Não eram latifundiários, nem latifundiárias, mas sua sombra estava sobre todos e todas, assim como a sombra dos eucaliptos. Pouquíssimas pessoas, principalmente trabalhadores e trabalhadoras, aceitavam conversar conosco. A engenheira que sorridente aceitou distribuir os panfletos para os operários que trabalhavam na obra que dirigia, o casal na loja de antiguidades que nos saudou sorridente dizendo que a luta estava bonita. Pessoas anônimas que ousavam nos olhar com simpatia e até assumir essa posição num espaço sumamente controlado. Uma versão antiquada de 1984. O controle social é uma velha instituição patriarcal e nada mais patriarcal que a oligarquia rural e seu sucessor, o agronegócio multinacional. Mas as poucas e singulares pessoas que acreditam na vida e se manifestam mesmo nos cantos mais conservadores do planeta, nos ajudaram muito. Aqueceram nossos corações e confirmaram o acerto de nossas escolhas.

Existem sim alternativas para a humanidade, mas não dentro do capitalismo. A atual crise do sistema financeira internacional não foi gerada pela classe trabalhadora, foi gerada pelo capital. Nós não queremos solução para esse sistema, queremos o fim do capital e a criação de outras formas de se relacionar e de produzir.

Sem feminismo não há socialismo! Pela revolução cotidiana e permanente!

Porto Alegre, março de 2009





agora em lingua argentina


“Mujeres en acción, eucaliptos en el piso”
por clarisse castilhos
[1]

fotos : http://www.flickr.com/photos/27200362@N02/sets/72157615421559467/


Namorando a madrugada
Eu e minha namorada
Vamos andando na estrada
Que vai dar no avarandado do amanhecer
No avarandado do amanhecer



Noche de 08 de marzo de 2009. Um abrazo apretado en algunas compañeras que reencontramos después de un año, otro en la que se queda. El ómnibus parte al encuentro de las otras. Poco a poco vamos dejando la ciudad poluída y violenta y nos vamos adentrando por un camino de luna, gorda, llena. Noche de brujas, plateada, en la que el silencio sugiere sombras e imágenes. Nosotras pensábamos en los compañeros y compañeras que se quedaron en casa; en quienes fueron expulsadxs de sus lugares durante el año; en las escuelas itinerantes, única opción de alfabetización y educación para lxs niñxs que son seguidamente arrancadxs de sus campamentos
[2] y puestos en otros.
No era la venganza lo que nos movía. Era el deseo de mostrar a la sociedad que existen alternativas. Muchas alternativas. El deseo de llevar a la sociedad urbana, a lxs trabajdorxs rurales - la peonada -, a la clase media y a lxs trabajadorxs de las pequeñas ciudades, la comprensión de que el monocultivo no va a generar alimentos para el pueblo brasilero, ni originará una sociedad cooperativa y solidaria. Peor, ciertamente va a llevar la miseria rural y urbana y la destrucción ambiental. El corazón apretaba cuando venían las imágenes de la represión del año pasado cuando más de 900 mujeres y niñxs fuimos humilladas con horribles gritos y más de 60 también agredidas físicamente.
Inmersas en estos pensamientos imaginamos las curvas sensuales de las caderas del Sur, lambidas con delicadeza por la luna plateada. Sin embargo, al espiar por la ventana, ya de madrugada, extrañas y asustadoras sombras comenzaban a erguirse dominando el paisaje de la pampa gaucha. Ahí, donde antiguamente había ríos, lagunas y arroyos, hoy está desfigurado por la oscuridad mórbida de las interminables hileras de eucaliptos. Pero no hablo de nuestros viejos eucaliptos, plantados en pequeña cantidad alredor de las casas para detener el viento minuano. No. Me refiero a millares e interminables, uno tras otro.
Apenas la empresa Votorantim Celulose y Papel posee 48 mil hectáreas de monocultivo de eucalipto para exportación en esta región. Estos árboles consumen 30 litros de agua por día y amenazan el acuífero guaraní por la contaminación con agrotóxicos y por el agotamiento de la reserva de agua que alimenta parte del Cono Sur. Esta fábrica de árboles que es subsidiada por el estado, amenaza los asentamientos
[3] de la región donde ya se siente la escasez de agua.
Saliendo del asfalto penetramos en la oscuridad absoluta de la hacienda Ana Paula
[4], cuyos 80 km de camino precario que recorremos son ladeados por masas compactas de eucaliptos. Al cabo de dos horas bajamos rompiendo la oscuridad de la noche y sintiendo el alborecer en nuestros cuerpos cansados. Apenas con nuestras herramientas de trabajo fuimos a enfrentar a nuestros enemigos. No los eucaliptos, sino el sistema que los eligió como a la monocultura del momento, los hombres sin escrúpulos que sólo quieren sacar dinero de la tierra, el gobierno omiso que no piensa en nuevas alternativas. Estamos en un período de crisis profunda en que la producción de alimentos está amenazada y las propias productoras de árboles están enfrentando dificultades; el dinero prestado para la producción fue usado en la especulación financiera.

Nuestras risas, los colores que traíamos en nuestras ropas, el brillo de nuestros ojos, iluminaban aquel ambiente sepulcral, muchos árboles cayeron al piso por los golpes de la hoz y el cuchillo. Un corte simbólico de una centena de árboles que duró apenas una hora.
Emprendemos la caminata de vuelta bajo un sol arrasador y sobre la tierra árida, totalmente reseca; fue duro, pero nos permitió a todas ver cada centímetro de aquel interminable desierto verde. Comprender y sentir la expresión desierto verde. Ni un pájaro, ni un animal, ni un mísero yuyo. Apenas árboles en hileras como en una línea de producción de automóviles.
Al final de esa primera caminada nos sentimos más protegidas, había señal de humanidad; apretado entre las plantaciones de eucalipto, el asentamiento allí estaba. Acampamos a la orilla del camino y de allí podíamos observar la diferencia entre un modelo y otro. De un lado vida, solidariedad, del otro árboles muertos, transfigurados por el capital.
Todo ocurrió como lo habíamos previsto. La brigada nos detuvo a la mañana siguiente y se llevó a 5 compañeras y un compañero del asentamiento
[5] ¿Por qué? Porque precisan justificar su acción contra nuestro andar pacífico. Precisan elegir algunas aleatoriamente, para justificarse frente al poder de los oligarcas del Sur del estado, frente a las órdenes del capital multinacional. Las otras fuimos identificadas y revisadas, luego encaminadas a los ómnibus para la ciudad de Candiota[6] , lugar donde pasaríamos la noche. Nuestra serenidad evitó cualquier agresión. Las compañeras fueron liberadas y al tercer día, terminamos nuestras actividades con una caminata por Bagé. De la misma forma que los eucaliptos, las personas formaban una masa oscura y silenciosa. Pocas personas osaban quedarse en las calzadas solo para curiosear, como en cualquier ciudad normal. No eran latifundiarios, ni latifundiarias, pero su sombra estaba sobre todos y todas, igual que la sombra de los eucaliptos. Poquísimas personas, principalmente trabajadores y trabajadoras aceptaban conversar con nosotras. La ingeniera que sonriente aceptó distribuir panfletos para los operarios que trabajaban en la obra que dirigía, la pareja en el negocio de antigüedades que nos saludó amablemente diciendo que la lucha estaba bonita. Personas anónimas que se animaban a mirarnos con simpatía e incluso asumir esta posición en un espacio sumamente controlado. Una versión anticuada de 1984. El control social es una vieja institución patriarcal y nada más patriarcal que la oligarquía rural y su sucesor, el agronegocio multinacional. Pero las pocas y singulares personas que creyeron en la vida y se manifestaron inclusive en los rincones más conservadores del planeta, nos ayudaron mucho. Calentaron nuestros corazones y confirmaron el acierto de nuestras elecciones.

Si existen alternativas para la humanidad, pero no dentro del capitalismo. La actual crisis del sistema financiero internacional no fue generada por la clase trabajadora, sino por el capital. Nosotras no queremos soluciones para este sistema, queremos el fin del capital y la creación de otras formas de relaciones y de producción.

¡Sin feminismo no hay socialismo! ¡Por la revolución cotidiana y permanente!

Porto Alegre, marzo de 2009


[1] Grupo mulheres rebeldes.

[2] Las personas que están acampando son aquellas que ocuparon una tierra y se ubican a las márgenes del camino dando visibilidad a la lucha. Viven en carpas de nylon negro, de forma muy precaria hasta que el gobierno les haga entrega de las tierras. El tiempo es incierto, hay casos que han esperado 6 meses, otros 8 años. Depende mucho del gobierno de turno.

[3] Asentamientos : Las personas asentadas son aquellas que luego de haber acampado durante un tiempo, ya recibieron las tierras para vivir y trabajar. Esas comunidades se llaman asentamientos.

[4] Ubicada al sur del Estado de Rio Grande do Sur, en las inmediaciones de Bagé, - ciudad fronteriza con Uruguay. Cuenta con 110.000 habitantes y está dominada desde hace mucho por la producción latifundista.

[5] Como la okupación era solamente de mujeres, una vez frente al asentamiento, algunos hombres solidarios fueron designados para algunas tareas de apoyo dado que todas estábamos envueltas en la acción y no podíamos circular entre los lugares.

[6] Pequeña ciudad de 8000 habitantes, vecina de Bagé.

No hay comentarios: