lunes, 7 de diciembre de 2009

ESCRITOS sobre feminismo - nº 0


Introdução
Este texto fará parte da Antologia del Pensamiento Feminista nuestroamericano, organizado pela escritora, filósofa e ativista feminista Francesca Gargallo.

Primero en lengua brasilera

COSTELA DE ADÃO
Por Clarisse e Áurea

O grupo feminista Costela de Adão surgiu em Porto Alegre, no extremo sul do Brasil, em fins dos anos 1970, a partir de conversas entre amigas oriundas do meio universitário. Estávamos ainda sob regime militar, mas a sociedade civil se organizava em função da luta pelas liberdades democráticas em diversos campos. Em 1988 foi promulgada a constituição que encerrou o período da ditadura no Brasil.
A maioria das mulheres do Costela de Adão teve alguma atuação no movimento estudantil – engajado na luta contra a ditadura -, cujas lideranças eram predominantemente masculinas. Nesse meio, era quase impossível inserir temas feministas, tendo em vista a hegemonia das formas tradicionais de se fazer política, que a esquerda propugnava. As bandeiras feministas eram vistas como um “desvio” dos objetivos fundamentais da luta política, quando não uma “reivindicação burguesa”.
O grupo Costela de Adão buscava compreender as transformações sociais num sentido, ao mesmo tempo, mais amplo e mais profundo. Assim, as questões feministas estavam necessariamente integradas a esse contexto, pela simples razão que a situação das mulheres é específica a cada sociedade, a cada momento histórico, sendo portanto condicionada pelo tipo de organização social em que vive.
Desse ponto de vista, não caberia hostilizar especialmente os homens, como faziam na época muitos grupos feministas estadunidenses, por exemplo. Jogar as mulheres contra os homens foi considerada uma estratégia equivocada, e o grupo desenvolveu a prática de reuniões abertas a homens, o que foi mal-visto por outros grupos de mulheres. Buscava-se o diálogo com o chamado “sexo oposto” porque achávamos que, em nossa luta, poderíamos tê-los como aliados na busca de relações mais humanas e menos estereotipadas e, sobretudo, na crítica e na transformação de uma sociedade repressora e desigualitária. A participação de homens limitava-se a reuniões especiais, onde alguns eram convidados para debater um tema específico. Pudemos constatar que diversos dentre eles trouxeram contribuições interessantes, a partir de suas experiências de vida, de suas relações com mães, irmãs, mulheres...
Embora o quotidiano do grupo Costela de Adão fosse feito por mulheres, essa abertura esporádica à participação masculina era suficiente para provocar uma certa surpresa na sociedade local, inclusive junto aos homens que tinham alguma tendência a fazer das feministas uma imagem pejorativa. O fato é que essa abertura se constituiu numa peculiaridade desse grupo em relação a todos os demais, naquele período.
As atividades desenvolvidas no grupo eram bastante variadas, incluindo leitura e debate interno de obras sobre a situação da mulher no mundo contemporâneo. Dentre os trabalhos brasileiros, destaca-se o livro de Heleieth Saffioti, “A mulher na sociedade de classes”. A par disso, comentávamos artigos da imprensa, filmes, livros, fatos que nos chamavam a atenção para a situação das mulheres. As reuniões eram realizadas nas casas das participantes, em forma de rodízio, com periodicidade variável. Mantinha-se contato com jornais feministas e com centros de estudos em São Paulo e Rio. Em Porto Alegre, tivemos apoio da Assembléia Legislativa do Estado para participar do 1º Encontro Nacional de Mulheres, no Rio, em março de 1979.

Nossa atividade mais visível - porque se materializou - foi a publicação “Escritos sobre feminismo”, onde veiculávamos nossas idéias. Os únicos dois números da revista foram feitos artesanalmente, desde redação e datilografia de textos, montagem, recorte e colagem de fotos, fotocópias, tudo o que hoje se faz facilmente por meios eletrônicos. Utilizávamos um mínimo de recursos tirados de nossas economias, pois não se tinha auxílio de nenhum tipo. A publicação teve um lançamento bastante festejado, sendo que houve duas tiragens do primeiro número. Passou-se a vendê-la diretamente ao público, em eventos culturais da cidade, com muito boa aceitação.
O grupo se dissolveu sem chegar a produzir o número seguinte de “Escritos sobre feminismo”. Não houve uma posição coletiva no sentido de extinguir o grupo. Simplesmente, as integrantes perderam o interesse de trabalhar em conjunto, embora até hoje, quando eventualmente se encontram, consideram que essas “façanhas” de 30 anos atrás cumpriram uma função. Pode-se constatar, hoje, que o Costela de Adão foi um grupo feminista diferente, pois ao mesmo tempo em que levava a sério a luta das mulheres, testemunhando um comprometimento autêntico com a causa, era capaz de colocar um toque de irreverência em suas formas de comunicação. A propósito, cabe referir o porquê do nome: é pura irreverência! Não precisa explicação.

Segue-se transcrição de texto do primeiro número da revista “Escritos sobre feminismo” onde o grupo Costela de Adão apresentava suas idéias básicas.


Introducción

Agora em lingua argentina

COSTILLA DE ADÁN
Por Clarisse e Áurea

El grupo feminista Costela de Adão surgió en Porto Alegre, extremo sur de Brasil, a finales de los 70´, a partir de conversaciones entre amigas oriundas del medio universitario. Estábamos todavía bajo el régimen militar, pero la sociedad civil se organizaba en función de la lucha por las libertades democráticas en diversos campos. En 1988 fue promulgada la constitución que cerraría el período de la dictadura en Brasil.
La mayoría de las mujeres de Costela de Adão tuvo alguna actuación en el movimiento estudiantil – relacionado a la lucha contra la dictadura -, cuyos líderes eran predominantemente masculinos. En ese medio era casi imposible inserir temas feministas, teniendo en vista la hegemonía de las formas tradicionales de hacer política, que la izquierda proponía. Las banderas feministas eran vistas como un “desvío” de los objetivos fundamentales de la lucha política, cuando no una “reivindicación burguesa”.
Costela de Adão buscaba comprender las transformaciones sociales en un sentido, al mismo tiempo, más amplio y más profundo. Así, las cuestiones feministas estaban necesariamente integradas en este contexto, por simple razón que la situación de las mujeres es específica a cada sociedad, a cada momento histórico, siendo por lo tanto, condicionada por el tipo de organización social en que se vive.
De este punto de vista, no cabría hostilizar especialmente a los hombres, como hacían en la época muchos grupos feministas estadounidenses, por ejemplo. Colocar a las mujeres contra los hombres fue considerada una estrategia equivocada, y el grupo desarrolló la práctica de reuniones abiertas a hombres, lo que fue mal visto por otros grupos de mujeres. Se buscaba el diálogo con el llamado “sexo opuesto” porque pensábamos que, en nuestra lucha, podríamos tenerlos como aliados en la búsqueda de relaciones más humanas y menos estereotipadas y, sobretodo, en la crítica y la transformación de una sociedad represora y desigual. La participación de hombres se limitaba a reuniones especiales, donde algunos eran invitados para debatir temas específicos. Pudimos constatar que varios de ellos, trajeron contribuciones interesantes, a partir de sus experiencias de vida, de sus relaciones con madres, hermanas, mujeres...
Si bien el cotidiano del grupo Costela de Adão era construido por mujeres, esta abertura esporádica a la participación masculina era suficiente para provocar una cierta sorpresa en la sociedad local, inclusive junto a los hombres que tenían alguna tendencia a hacer de las feministas una imagen peyorativa. El hecho es que esta abertura se constituyó en una peculiaridad de este grupo en relación a todos los demás, en aquel período.
Las actividades que se llevaban a cabo en el grupo eran bastante variadas, incluyendo lectura y debate interno de obras sobre la situación de las mujeres en el mundo contemporáneo. Entre los trabajos brasileros, se destaca el libro de Heleieth Saffioti, “La mujer en la sociedad de clases”. También, comentábamos artículos de diarios y revistas, films, libros, hechos que nos llamaban la atención para la situación de las mujeres. Las reuniones eran realizadas en las casas de las participantes, de forma rotacional, con periodicidad variable. Manteníamos contacto con diarios feministas y con centros de estudios en San Pablo y Rio de Janeiro. En Porto Alegre, tuvimos apoyo de la Asamblea Legislativa del Estado para participar del 1º Encuentro Nacional de Mujeres, en Rio, durante marzo de 1979.
Nuestra actividad más visible - porque se materializó - fue la publicación “Escritos sobre feminismo”, donde expresábamos nuestras ideas. Los únicos dos números de la revista fueron hechos artesanalmente, desde la redacción y dactilografía de textos, montaje, recorte y pegado de fotos, fotocopias, todo lo que hoy se hace fácilmente por medios electrónicos. Utilizábamos un mínimo de recursos que aportábamos de nuestras economías, pues no se tenía auxilio de ningún tipo. La publicación tuvo un lanzamiento bastante festejado, siendo que hubo dos tiradas del primer número. Se pasó a venderlo directamente al público, en eventos culturales de la ciudad, con muy buena aceptación.
El grupo se disolvió sin llegar a producir el número siguiente de “Escritos sobre feminismo”. No hubo una posición colectiva en el sentido de extinguir el grupo. Simplemente, las integrantes perdieran el interés de trabajar en conjunto, si bien hasta hoy, cuando eventualmente se encuentran, consideran que esas “hazañas” de 30 años atrás cumplieron una función. Puede constatarse, hoy, que Costela de Adão fue un grupo feminista diferente, pues al mismo tiempo en que llevaba seriamente la lucha de las mujeres, testimoniando un compromiso auténtico con la causa, era capaz de colocar un toque de irreverencia en sus formas de comunicación. A propósito, cabe referirse al porqué del nombre: es pura irreverencia! No precisa explicación.

A seguir, la transcripción textual del primer número de la revista “Escritos sobre feminismo” donde el grupo Costela de Adão presentaba sus ideas básicas.



Primero en lengua brasilera

2ª edição - apresentação-

“Esta é uma publicação do Grupo de Mulheres de Porto Alegre “Costela de Adão”. Não tem periodicidade definida, podendo sair outro número a qualquer momento. Estes primeiros escritos representam uma homenagem ao dia 8 de março, Dia internacional da Mulher. Os conteúdos aqui expressos representam nossas idéias como hoje se apresentam, mas sem caráter fechado, definitivo. A intenção é divulgar nossas idéias e debatê-las.

quem somos nós

O grupo de Mulheres de Porto Alegre (GMPA) teve sua origem num grupo de pessoas que, de uma forma ou de outra, já se conheciam e que decidiram reunir-se em torno de um tema que interessava a todas: mulher. Em 1976, quando isso ocorreu, não era comum, como é hoje, a existência de grupos feministas, de modo que nem sabíamos por onde começar, ou sequer tínhamos claro o que um grupo de mulheres em Porto Alegre poderia fazer. O que para nós parecia importante era reunir-se com mulheres, sentir uma problemática que é comum, trocar experiências, discutir sobre a nossa situação concreta. A par disso, fizemos seminários sobre o livro de Heleieth Saffioti A Mulher na Sociedade de Classes, com reuniões semanais, o que nos trouxe contribuições importantes a nível intelectual e também suscitou a abertura de novos caminhos de investigação.
Com interrupção durante o período de férias, o grupo demonstrava tendências a continuar seu trabalho nessa linha, durante o ano de 1977. Foi, entretanto interrompido por uma dispersão de seus integrantes, causada pela repressão policial que, por motivos até hoje pouco claros, nos envolvem questões cuja investigação nada tinha a ver conosco. De qualquer forma, isso nos intimidou por muito tempo.

Voltando a reunir-se esporadicamente no primeiro semestre de 1978, o grupo não manteve atividades regulares senão em agosto, após a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, da qual participaram algumas integrantes. Contando então com novas companheiras, o grupo rearticulou-se em torno de varias frentes de trabalho, a serem desenvolvidas paralelamente, incluindo atividades práticas e de reflexão. Nesse sentido, foram mantidas correspondência com outros grupos de mulheres do Brasil e jornais feministas para troca de idéias e de experiências. Foram dessa época nossos contatos com o Centro da Mulher Brasileira, do Rio de Janeiro, e com o jornal Nós Mulheres, de São Paulo.

Enquanto isso, o setor feminino do MDB de Porto Alegre nos solicitava para colaborar na preparação de um fórum de debates que pretendia promover. Apresentamos uma sugestão de temário e um pequeno texto sobre a situação da mulher, que seria publicado num boletim a ser distribuído por ocasião dos debates. Acontece que os debates não se realizaram, por razões que desconhecemos em profundidade. Com isso, o grupo procurou novamente dinamizar suas atividades mais reflexivas, na tentativa de abrir um espaço onde se pudesse discutir mais abertamente os problemas que, no dia a dia, nos afligem como mulheres.

Quando fomos informadas pelo CMB da realização, em março de 79, do I Encontro Nacional de mulheres, no Rio, o grupo foi absorvido por atividades preparatórias, desde leituras de textos, redação, até organização de promoções (festas, rifas) para arrecadação de fundos que viabilizassem nossa participação no Encontro.
Dentro da nossa proposta de implementar o debate sobre a situação da mulher, decidimos ampliar o grupo sendo que, a partir de janeiro de 79, já contava com um número de participantes maior do que o esperado. Isso, de início, nos pareceu muito bom, porém, com o tempo apareceram dificuldades de adaptação que não prevíramos e uma diversidade de pontos de vista quanto as maneiras de agir, que só puderam ser resolvidas com a divisão do grupo recém formado. Essas divergências, surgiram em meio a preparação de nossa participação no Encontro, e foram resolvidas definitivamente depois dele. Apesar disso, a experiência teve seu lado positivo, pois trouxe maior unidade ao núcleo já existente, gerando maior consciência, e uma segurança bem maior na defesa de nossas idéias. Além disso, proporcionou o surgimento de novos grupos feministas em Porto Alegre, o que por si só já é muito bom.

Dentre as atividades do grupo, a partir de março de 1979, destaca-se nossa correspondência com o pessoal do jornal Nós Mulheres, que se intensificou e aprofundou. Abrimos uma nova frente, desta vez com o jornal Lampião, que tem se mostrado bastante sério quando trata de feminismo, que inclusive publicou um artigo do Escritos.

Internacionalmente, buscou-se um tema específico para estudos, que foi o da sexualidade. No começo, lemos e discutimos alguns trechos do livro de Sulamith Firestone A Dialética do Sexo, partes do Relatório Hite, entre outros.

A partir daí, nossas preocupações dirigiram-se para fora do grupo, no sentido de promover debates abertos, com pessoas convidadas a que não tinham compromisso direto com as atividades do grupo. Os temas selecionados forma: relações “paralelas”, sexualidade, homossexualidade, “vida autônoma” e anticoncepção. No primeiro assunto, tratava-se de analisar a situação de uma pessoa que se relaciona afetivamente com mais de um parceiro ao mesmo tempo. Sob o título “vida autônoma”, as atenções voltavam-se para as alternativas ao convívio família, ou seja, mora só ou em grupo. Nos demais temas, o conteúdo das discussões está mais claro. A importância desses debates está mais na inovação da atitude do que no esgotamento dos temas, uma vez que ainda permaneceu muito a ser discutido e aprofundado. Nossa intenção é dar continuidade a essas iniciativas, em 80, com a inclusão de novos assuntos.”



I artigo da revista Zero- comentários sobre alguns conceitos-chave.

FEMINISMO

- 1-
A idéia de feminismo está envolvida em tantos preconceitos e pré-julgamentos, e provoca uma aversão às vezes tão grande mesmo em pessoas aparentemente abertas, que é preciso falar do assunto mais até do que o necessário. De todos os movimentos mais ou menos revolucionários, que buscam formas de organização não necessariamente partidárias, o feminismo é o que encontra maior resistência à aceitação, mesmo por parte daqueles que se pretendem contrários ao “sistema” por pensamentos, palavras e obras.

Por certo a resistência não fica apenas por conta dos preconceitos dos “outros”, mas se justifica às vezes pela atuação preconceituosa das próprias feministas, que se encarregam de oferecer argumentos preciosos à crítica do feminismo como movimento.

De qualquer forma, as críticas aos possíveis equívocos de uma prática feminista não podem ser estendidas ao feminismo como em todo. E se essa generalização indevida parte mais comumente dos homens, é bom lembrar que o feminismo traz em si uma nova maneira de pensar a realidade tanto para a mulher quanto para o homem. Portanto, embora por motivos óbvios tenha nascido entre as mulheres, é uma luta tanto do homem quanto dela, porque quer libertá-los dos papéis rígidos que são obrigados a representar, tanto um para o outro, quanto nas respostas que dão às exigências sociais.

Tal vez seja natural a quase total ausência de homens nesses primeiros passos do feminismo no Brasil. Natural porque, nessa rígida divisão de papéis, o do homem é aparentemente melhor. Mais facilmente o dominado se revolta e não o dominador, mas seguramente nenhuma das duas posições é feliz. E é justamente isso o que se precisa descobrir: mais felicidade nas formas de relação, relacionamentos não baseados no poder e na dominação de um ser humano por outro, seja ele homem ou mulher.

Essa é a tarefa do feminismo no que ele tem de mais essência: achar um jeito novo de pensar, sentir e viver as diferenças entre os seres humanos. Entendê-las não como opostos irreconciliáveis, mas como uma pluralidade de manifestações da vida, e lutar para que essa riqueza encontre seu espaço.

- 2 –

A luta feminista está inserida num plano mais amplo de transformações estruturais da sociedade que conhecemos, de modo a reconduzir o homem à sua própria natureza, isto é, desaliená-lo, dar-lhe condições necessárias para que ele faça a sua própria felicidade.

A condição atual de submissão da mulher é apenas uma parte de toda uma situação em que vive a raça humana. Conscientizar-se de sua situação de opressão especifica é conscientizar-se de uma situação de dominação, de autoritarismo em todos os níveis da sociedade, em suas diversas manifestações.

É contra isso que lutamos, contra uma situação que transforma as diferenças da natureza em discriminação social.

Nosso objetivo não é galgar um lugar ao lado do homem, mostrar a ele que também conseguimos o que queremos ou fazer ver a sociedade que também podemos fazer o que o homem faz, e tão bem quanto ele. Não acreditamos na concorrência como caminho para a libertação. Acreditamos na busca de novas formas de relacionamento entre as criaturas, e queremos mostrar aos homens que não é o lugar deles que nos interessa, numa sociedade que negamos, baseada em valores que não acreditamos. Queremos que a exigência de um novo espaço seja também a existência dos homens, um novo espaço que pensamos recuperar a nossa identidade como mulheres e eles como homens, e as crianças como crianças. Queremos que a simples característica de sexo, ou de idade, não seja motivo de dominação/submissão, mas simplesmente uma manifestação da vida em seus diversos aspectos.

Assim, insere-se a consciência feminista num campo mais abrangente e mais profundo do que simplesmente reivindicar um lugar ao sol numa sociedade autoritária e repressiva. É tarefa do movimento feminista pôr em xeque os elementos fundamentais que permitem a manutenção da sociedade nesses moldes.

Ao questionar o papel secularmente imposto á mulher, a consciência feminista traz à lume um dos pilares de sustentação econômica e ideológica do sistema capitalista, e com ele toda uma gama de contradições transparecem com maior nitidez. São questionados os padrões de comportamento sexual, a moral burguesa, a religião, a ciência (que descobriu tantas explicações “cientificas” para a inferioridade feminina), a organização familiar monogâmica, e etc..

É questionado também o uso do corpo como objeto, isto é, como instrumento de trabalho e de reprodução. Nesse sentido, por exemplo, a luta feminista é contra o próprio conceito de trabalho produtivo, que aliena o corpo do individuo que o possui, em função da produção de uma mercadoria completamente estranha ao seu produtor..

No caso especifico da mulher, o sistema capitalista faz uso de seu corpo com a finalidade de reprodução, pois através da educação, a mulher é encaminhada a cumprir as funções de reprodutora, de uma forma também alheia a sua própria escolha. Por isso é que os movimentos feministas reivindicam a liberação do aborto, o que faria com que as mulheres pudessem assumir a maternidade como uma opção, e não se resignar ao cumprimento de um dever socialmente imposto. Além do que, reivindicar o aborto legalizado significa exigir o direito ao prazer, advindo do exercício livre da sexualidade, e não sobrepujado pela máxima da procriação, que é o que voga atualmente na sociedade que conhecemos.

Considerando o feminismo na sua acepção mais ampla e profunda, observa-se que ele tem condições de propor uma nova ordem social, que transcende a simples transformação da ordem política e econômica, que não se limita a exigência de igualdade social entre as pessoas. A situação de submissão social da mulher não começou no século passado, mas vem desde há bem mais tempo, e persistiu, embora, assumindo formas diferentes, em vários tipos de organização econômica. Portanto, trata-se de uma questão de caráter diferente, e a libertação da mulher não virá como simples conseqüência de uma transformação sócio-econômica, mas exige mudanças mais profundas.

Lutamos, pois, por um feminismo radical, ou seja, que vá às raízes da situação da mulher; situação essa que está muito longe de ser resolvida queimando sutiãs, fazendo “greve aos homens” e outras práticas de semelhante teor. O feminismo que defendemos é aquele que tem condições de negar radicalmente a situação de opressão feminina (e tudo o que daí resulta e que com isso se relaciona), para com isso deixar nascer uma nova forma de relacionamento entre os seres vivos, que os faça menos condicionados e mais felizes.



Agora em lingua argentina

ESCRITOS sobre feminismo- nº 0
2ª edición

presentación

Esta es una publicación del Grupo de Mujeres de Porto Alegre “Costilla de Adán”. No tiene una periodicidad definida, pudiendo salir otro número en cualquier momento. Estos primeros escritos representan un homenaje al día 8 de marzo, Día internacional de la Mujer. Los contenidos aquí expresados representan nuestras ideas como hoy se presentan, mas sin carácter cerrado, definitivo. La intención es divulgar nuestras ideas y debatirlas.

quiénes somos

El grupo de Mujeres de Porto Alegre (GMPA) tuvo su origen en un grupo de personas que, de alguna manera ya se conocían y decidieron reunirse en torno de un tema que interesaba a todas: mujer. En ese entonces corría el año 1976, no era común, como hoy
[1], la existencia de grupos feministas, de modo que no sabíamos por dónde comenzar, ni siquiera teníamos claro lo que un grupo de mujeres en Porto Alegre podría hacer. Nos parecía importante hacer reuniones con mujeres, sentir una problemática que es común, intercambiar experiencias, discutir sobre nuestra situación concreta. Paralelamente, hicimos seminarios sobre el libro de Heleieth Saffioti La Mujer en la Sociedad de Clases, con reuniones semanales, lo que nos trajo contribuciones importantes a nivel intelectual y también suscitó la abertura de nuevos caminos de investigación.
Con interrupción durante el período de vacaciones, el grupo demostraba tendencias a continuar su trabajo en esta línea durante el año de 1977. Fue, entretanto interrumpido por una dispersión de sus integrantes, causada por la represión policial que, por motivos hasta hoy poco claros, nos envuelven cuestiones cuya investigación nada tenía que ver con nosotras. De cualquier forma, eso nos intimidó por mucho tiempo.

Volviendo a reunirse esporádicamente en el primer semestre de 1978, el grupo no mantuvo actividades regulares hasta agosto, luego de una reunión anual de la Sociedad Brasilera para el Progreso de la Ciencia – SBPC, de la cual participaron algunas integrantes. Contando con la participación de nuevas compañeras, el grupo se rearticuló en torno de varias frentes de trabajo, que fueron llevadas paralelamente, incluyendo actividades prácticas y de reflexión. En este sentido, se mantuvieron contactos por correspondencia con otros grupos de mujeres de Brasil y diarios feministas para intercambio de ideas y de experiencias. En esa época, mantuvimos contactos con el Centro de la Mujer Brasilera, de Río de Janeiro, y con el diario Nós Mulheres, de San Pablo.

Mientras tanto, el sector femenino del MDB de Porto Alegre, nos solicitaba para colaborar en la preparación de un forum de debates que pretendía promover. Presentamos una sugerencia de temarios y un pequeño texto sobre la situación de la mujer que sería publicado en un boletín a ser distribuido en los debates. Los debates no se realizaron por razones que desconocemos en profundidad. Así, el grupo buscó nuevamente dinamizar sus actividades más reflexivas, en la tentativa de abrir un espacio donde se pudiese discutir más abiertamente los problemas que, en el día-día, nos afligen como mujeres.

Cuando fuimos informadas por el CMB de la realización, en marzo del 79, del I Encuentro Nacional de mujeres, en Rio, el grupo fue absorbido por actividades preparatorias, desde lecturas de textos, redacción, hasta organización de promociones (fiestas, rifas) para recaudación de fondos que viabilizasen nuestra participación en el Encuentro.

Dentro de nuestra propuesta de implementar el debate sobre la situación de la mujer, decidimos ampliar el grupo, y a partir de enero del 79, ya contaba con un número de participantes mayor de lo esperado. En un inicio nos pareció muy bueno, pero con el tiempo, aparecieron dificultades de adaptación que no pudimos preveer y una diversidad de puntos de vista respecto a las maneras de acción, que solo pudieron ser resueltas con la división del grupo recién formado. Estas divergencias surgieron en medio a la preparación de nuestra participación en el Encuentro, y fueron resueltas definitivamente después de él. A pesar de todo esto, la experiencia tuvo su lado positivo, trajo mayor unidad al núcleo ya existente, generando mayor consciencia y seguridad más consistente en cuanto a la defensa de nuestras ideas. También, proporcionó el surgimiento de nuevos grupos feministas en Porto Alegre, lo que por sí solo, ya es muy bueno.

Entre las actividades del grupo, a partir de marzo de 1979, destacamos nuestra correspondencia con las personas del diario Nós Mulheres, que se intensificó y profundizó. Abrimos una nueva frente, esta vez con el diario Lampião, que se mostró bastante serio cuando trata de feminismo, que inclusive, publicó un artículo de Escritos.

Internacionalmente, se buscó un tema específico para estudios, que fue el de la sexualidad. Al comienzo, leímos y discutimos algunas partes del libro de Sulamith Firestone A Dialética do Sexo, partes del Relatório Hite, entre otros.


A partir de ahí, nuestras preocupaciones fueron dirigidas para afuera del grupo, en el sentido de promover debates abiertos, con personas invitadas y que no tuvieran compromiso directo con las actividades del grupo. Los temas seleccionados fueron: relaciones “paralelas”, sexualidad, homosexualidad, “vida autónoma” y anticoncepción. El primer asunto, trataba de analizar la situación de una persona que se relaciona afectivamente con más de un compañero al mismo tiempo. Bajo el título “vida autónoma”, las atenciones se dirigían a las alternativas de la convivencia familiar, o sea, vivir sola o en grupo. En los demás temas, el contenido de las discusiones está más claro. La importancia de estos debates está más en la innovación de la actitud, que en el agotamiento propio de los temas, sabemos que quedaron muchas cosas para ser debatidas y profundizadas. Nuestra intención es dar continuidad a estas iniciativas, en el 80, con la inclusión de nuevos asuntos.

I artículo de la revista Cero - comentarios sobre algunos conceptos claves.

FEMINISMO

- 1 –

La idea de feminismo está vestida de tantos preconceptos y prejuicios que provoca una aversión, a veces tan grande, incluso en personas aparentemente abiertas, que es preciso insistir con el tema más de la cuenta. De todos los movimientos más o menos revolucionarios que buscan formas de organización no necesariamente partidarias, el feminismo es donde se encuentra mayor resistencia a ser aceptado, mismo por parte de quienes se pretenden contrarios al “sistema” por pensamientos, palabras y obras.

Por cierto, la resistencia no se queda apenas con los preconceptos de los “otros”, pero se justifica, a veces, por la actuación prejuiciosa de las propias feministas que se encargan de ofrecer argumentos preciosos a la crítica del feminismo como movimiento.

De todas formas, las críticas a los posibles equívocos de una práctica feminista no pueden ser extendidas al feminismo como un todo. Y si esa generalización indebida parte más comúnmente de los hombres, es bueno recordar que el feminismo trae en sí una nueva manera de pensar la realidad tanto para la mujer cuanto para el hombre. Entonces, si bien por motivos obvios nació entre las mujeres, es una lucha tanto del hombre cuanto de ella, porque quiere libertarlos de los papeles rígidos que son obligados a representar, tanto uno para el otro, cuanto en las respuestas que dan a las exigencias sociales.

Tal vez sea natural la casi total ausencia de hombres en esos primeros pasos del feminismo en Brasil. Natural porque en esta rígida división de roles, el del hombre es aparentemente mejor. Más fácilmente el dominado se revuelta y no el dominador, pero seguramente ninguna de las dos posiciones es feliz. Y es justamente eso lo que se precisa descubrir: más felicidad en las formas de relación, relacionamientos no basados en el poder y en la dominación de un ser humano por otro, sea hombre o mujer.

Esta es una tarea fundamental del feminismo : encontrar una forma nueva de pensar, sentir y vivir las diferencias entre los seres humanos. Entenderlas no como opuestas irreconciliables, sino como una pluralidad de manifestaciones de la vida, y luchar para que esta riqueza encuentre su espacio.


- 2 –

La lucha feminista está inserida en un plano más amplio de transformaciones estructurales de la sociedad que conocemos, de modo a reconducir el hombre a su propia naturaleza, esto es, desalienarlo, darle condiciones necesarias para que él haga su propia felicidad.

La condición actual de sumisión de la mujer es apenas una parte de toda una situación en que vive la raza humana. Concientizarse de su situación de opresión específica es concientizarse de una situación de dominación, de autoritarismo en todos los niveles de la sociedad, en sus diversas manifestaciones.

Es contra eso que luchamos, contra una situación que transforma las diferencias de la naturaleza en discriminación social.

Nuestro objetivo no es conseguir un lugar al lado del hombre, sino mostrarle a él que también conseguimos lo que queremos o hacer ver a la sociedad que también podemos hacer lo que el hombre hace, y tan bien cuanto él. No creemos en la competencia como camino para la libertación. Creemos en la búsqueda de nuevas formas de relacionamientos entre las criaturas, y queremos mostrar a los hombres que no es el lugar de ellos que nos interesa, en una sociedad que negamos, basada en valores que no creemos. Queremos que la exigencia de un nuevo espacio sea también la existencia de los hombres, un nuevo espacio que pensamos recuperar a nuestra identidad como mujeres y ellos como hombres, y los niños como niños. Queremos que la simple característica del sexo, o de edad, no sea motivo de dominación/sumisión, más simplemente una manifestación de la vida en sus diversos aspectos.

De esta forma entra la conciencia feminista en un campo que puede abarcar más y más profundo de lo que simplemente reivindicar un lugar al sol en una sociedad autoritaria y represiva. Es tarea del movimiento feminista poner en jaque los elementos fundamentales que permiten la manutención de la sociedad en esos moldes.

Al cuestionar el papel secularmente impuesto a la mujer, la conciencia feminista trae a luz uno de los pilares de sustento económico e ideológico del sistema capitalista, y con él toda una gama de contradicciones trasparecen con mayor nitidez. Son cuestionados los padrones de comportamiento sexual, la moral burguesa, la religión, la ciencia (que descubrió tantas explicaciones “científicas” para la inferioridad femenina), la organización familiar monogámica, etc.

Es cuestionado también el uso del cuerpo como objeto, esto es, como instrumento de trabajo y de reproducción. En este sentido, por ejemplo, la lucha feminista es contra el propio concepto de trabajo productivo, que aliena el cuerpo del individuo que lo posee, en función de la producción de una mercaduría completamente extraña a su productor.

En el caso especifico de la mujer, el sistema capitalista hace uso de su cuerpo con la finalidad de reproducción, pues a través de la educación, la mujer queda direccionada a cumplir las funciones de reproductora, de una forma también ajena a su propia elección. Por eso es que los movimientos feministas reivindican la liberación del aborto, lo que haría que las mujeres pudiesen asumir la maternidad como una opción, y no resignarse al cumplimiento de un deber socialmente impuesto. Además de que reivindicar el aborto legalizado significa exigir el derecho al placer, relacionado con el ejercicio libre de la sexualidad, y no sobrepujado por la máxima de la procreación, que es lo que boga actualmente en la sociedad que conocemos.

Considerando el feminismo en su acepción más amplia y profunda, se observa que tiene condiciones de proponer un nuevo orden social, que trasciende la simple transformación de orden política y económica, que no se limita a la exigencia de igualdad social entre las personas. La situación de sumisión social de la mujer no comenzó en el siglo pasado, viene desde mucho tiempo atrás, y persistió, si bien asumiendo formas diferentes, en varios tipos de organización económica. Por lo tanto, se trata de una cuestión de carácter diferente, y la libertación de la mujer no vendrá como simple consecuencia de una transformación socio-económica, exige cambios más profundos.

Luchamos por un feminismo radical, o sea, que vaya a las raíces de la situación de la mujer; situación que está muy lejos de ser resuelta quemando corpiños (brassiers), haciendo “huelga a los hombres” y otras prácticas de semejante tenor. El feminismo que defendemos es aquel que tiene condiciones de negar radicalmente la situación de opresión femenina (y todo lo que de ahí resulta es que con eso se relaciona), para así dejar nacer una nueva forma de relacionamiento entre los seres vivos, que los haga menos condicionados y más felices.

[1] La revista salió em 1980.

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