lunes, 18 de mayo de 2009

Audre Lorde


A transformação do silêncio em linguagem e em ação[1]


primeiro em lingua brasileira

Muitas vezes penso que preciso dizer as coisas que me parecem mais importantes, verbalizá-las, compartilhá-las, mesmo correndo o risco de que sejam rejeitadas ou mal-entendidas. Mais além do que qualquer outro efeito, o fato de dizê-las me faz bem. Eu estou aqui como poeta Negra lésbica e sobre o significado de tudo isso repousa o fato de ainda estar viva, coisa que poderia não ter sido. Há menos de dois meses, dois médicos –um homem e uma mulher- me disseram que devia fazer uma operação de mama e que as chances de que o tumor fosse maligno estavam entre 60 e 80 por cento.
Entre essas palavras e a operação, passaram três semanas de agonia em que precisei re-organizar involuntariamente toda minha vida. A operação já passou e o tumor era benigno. Mas durante essas três semanas, tive que retornar sobre mim mesma e sobre minha vida com uma severa e urgente lucidez que me deixaram ainda tremendo, mas ainda mais forte.
É uma situação com a qual, muitas mulheres se deparam, talvez algumas de vocês, hoje.
As coisas que experimentei nesse período me ajudaram a compreender muito do que sinto sobre a transformação do silêncio em linguagem e em ação.
Ao tomar forçadamente consciência de minha própria mortalidade, do que desejava e queria de minha vida, durasse o que durasse, as prioridades e as omissões brilharam sob uma luz impiedosa, e do que mais me arrependi foi de meus silêncios. O que me dava tanto medo? Questionar e dizer o que pensava podia provocar dor, ou a morte. Mas, todas sofremos de tantas maneiras todo o tempo, sem que por isso a dor diminua ou desapareça. A morte não é mais do que o silêncio final. E pode chegar rapidamente, agora mesmo, mesmo antes de que eu tenha dito o que precisava dizer.
Só havia traído a mim mesma nesses pequenos silêncios, pensando que algum dia ia falar, ou esperando que outras falassem. E comecei a reconhecer uma fonte de poder dentro de mim ao dar-me conta de que não devia ter medo, que a força estava em aprender a ver o medo a partir de outra perspectiva.
Eu ia morrer cedo, tivesse falado ou não. Meus silêncios não tinham me protegido. Tampouco protegerá a vocês. Mas cada palavra que tinha dito, cada tentativa que tinha feito de falar as verdades que ainda persigo, me aproximou de outras mulheres, e juntas examinamos as palavras adequadas para o mundo em que acreditamos, nos sobrepondo a nossas diferenças. E foi a preocupação e o cuidado de todas essas mulheres que me deu forças e me permitiu analisar a essência de minha vida.
As mulheres que me ajudaram durante essa etapa foram Negras e brancas, velhas e jovens, lésbicas, bissexuais e heterossexuais, mas todas compartilhamos a luta da tirania do silêncio. Todas elas me deram a força e a companhia sem as quais não teria sobrevivido intacta. Nessas semanas de medo agudo –na guerra todas lutamos, sutilmente ou não, conscientemente ou não, contra as forças da morte- compreendi que eu não era só uma vítima, mas também uma guerreira.
Que palavras ainda lhes faltam? O que necessitam dizer? Que tiranias vocês engolem cada dia e tentam torná-las suas, até asfixiar-se e morrer por elas, sempre em silêncio? Talvez para algumas de vocês hoje, aqui, eu represento um de seus medos. Porque sou mulher, porque sou Negra, porque sou lésbica, porque sou eu mesma - uma poeta guerreira Negra fazendo seu trabalho. Pergunto : vocês, estão fazendo o seu?
E, certamente tenho medo, porque a transformação do silêncio em linguagem e em ação é um ato de auto-revelação, e isso sempre parece estar cheio de perigos. Mas minha filha, quando falei de nosso tema e de minhas dificuldades, me disse: "Fala para elas de como nunca se é uma pessoa inteira se guardas silêncio, porque esse pedacinho fica sempre dentro de ti e quer sair, e se segues ignorando-o, ele se torna cada vez mais irritado e furioso, e se nunca o deixar sair um dia diz: basta! e te dá um soco dentro da boca".
No silêncio, cada uma de nós desvia o olhar de seus próprios medos - medo do desprezo, da censura, do julgamento, ou do reconhecimento, do desafio, do aniquilamento. Mas antes de nada acredito que tememos a visibilidade, sem a qual entretanto não podemos viver, não podemos viver verdadeiramente. Neste país em que a diferença racial cria uma constante, ainda que não seja explícita, distorção da visão, as mulheres Negras temos sido visíveis por um lado, enquanto que por outro nos fizeram invisíveis pela despersonalização do racismo. Ainda dentro do movimento de mulheres tivemos que lutar, e seguimos lutando, para recuperar essa visibilidade que ao mesmo tempo nos faz mais vulneráveis: a de ser Negras. Porque para sobreviver nesta boca de dragão que chamamos américa, tivemos que aprender esta primeira lição, a mais vital, e não se supunha que fossemos sobreviver. Não como seres humanos. Nem se suponha que fossem sobreviver a maioria de vocês, Negras ou não. E essa visibilidade que nos faz tão vulneráveis, é também a fonte de nossa maior fortaleza. Porque a máquina vai tratar de nos triturar de qualquer maneira, tenhamos falado ou não. Podemos nos sentar num canto e emudecer para sempre enquanto nossas irmãs e nossas iguais são desprezadas, enquanto nossos filhos são deformados e destruídos, enquanto nossa terra está sendo envenenada, podemos ficar quietas em nossos cantos seguros, caladas como se engarrafadas, e ainda assim seguiremos tendo medo.
Em minha casa se celebra este ano a festa de Kwanza, o festival Afro-americano da colheita, que começa o dia depois do Natal e dura sete dias. Há sete princípios de Kwanza, um para cada dia. O primeiro princípio é Umoja, que quer dizer unidade, a decisão de lutar pela unidade e mantê-la em nós mesmas e na comunidade. O princípio de ontem, o segundo dia, era Kujichagulia: a autodeterminação, a decisão de definir a nós mesmas, de dar nomes, de falar por nós em vez de sermos nomeadas e expressadas por outros. Hoje é o terceiro dia de Kwanza, e o princípio de hoje é Ujima: o trabalho coletivo e a responsabilidade, a decisão de construir e conservar juntas nossas comunidades, de reconhecer e resolver juntas nossos problemas.
Cada uma de nós está hoje aqui porque de um modo ou outro compartilhamos um compromisso com a linguagem e com o seu poder, também com a recuperação dela que foi utilizada contra nós. Na transformação do silêncio em linguagem e em ação, é de uma necessidade vital para nós estabelecer e examinar a função dessa transformação e reconhecer seu papel igualmente vital dentro dessa transformação.
Para quem escrevemos, é necessário examinar não só a verdade do que falamos mas também a verdade da linguagem em que o dizemos. Para outras, se trata de compartilhar e difundir aquelas palavras que significam tanto para nós. Mas em princípio, para todas nós, é necessário ensinar com a vida e com as palavras essas verdades que acreditamos e conhecemos mais além do entendimento. Porque só assim sobreviveremos, participando num processo de vida criativo, contínuo e em crescimento.
E sempre se fará com medo - da visibilidade, da dura luz da análise, talvez do julgamento, da dor, da morte. Mas, com exceção da morte, nós já passamos por tudo isso e o fizemos em silêncio. Eu penso todo o tempo que se tivesse nascido muda, ou se tivesse mantido um juramento de silêncio toda minha vida, teria sofrido igual, e igualmente morreria. É bom lembrar, para não perder a perspectiva.
E quando as palavras das mulheres clamam por serem ouvidas, cada uma de nós deve reconhecer sua responsabilidade de tirar essas palavras para fora, lê-las, compartilhá-las e examiná-las em sua pertinência à vida. Não nos escondamos detrás das falsas separações que nos impuseram e que tão seguidamente as aceitamos como nossas. Por exemplo: "Não posso ensinar a literatura das mulheres Negras porque sua experiência é diferente da minha". Entretanto, durante quantos anos ensinaram Platão, Shakespeare e Proust? Ou: "Ela é uma mulher branca, o que ela pode dizer para mim" Ou: "Ela é lésbica... O que vai dizer o meu marido, ou meu chefe?" Ou ainda: "Esta mulher escreve sobre nossos filhos, e eu não sou mãe”. E assim todas as outras formas em que nos abstraímos umas das outras.
Podemos aprender a trabalhar e a falar apesar do medo, da mesma maneira que aprendemos a trabalhar e a falar apesar de cansadas. Fomos educadas para respeitar mais ao medo do que a nossa necessidade de linguagem e definição, mas se esperamos em silêncio que chegue a coragem, o peso do silêncio vai nos afogar.
O fato de estarmos aqui e que eu esteja dizendo essas palavras, já é uma tentativa de quebrar o silêncio e estender uma ponte sobre nossas diferenças, porque não são as diferenças que nos imobilizam, mas o silêncio. E restam tantos silêncios para romper!


La transformación del silencio en palabra y acción

ahora en lengua uruguaya

¿Cómo están nuestras queridas amigas? Nosotras chispeantes de alegría porque hoy tenemos una invitada muy especial. Con inmenso placer les contamos que en instantes tendremos aquí, con nosotras, la presencia de la imprescindible (escuchen los clarinetes y vean las manos que dan paso a la entrada de la maravillosa) Audre Lorde
[2]. Aplausos, aplausos.
Mientras la hacemos pasar y nos sentamos, les vamos contando que nuestra chef de la más alta cocina estadounidense, pero adoptada por muchas naciones, y por las que no creemos en fronteras también, se define a sí misma como “poeta, guerrera, madre, negra y lesbiana.” Nosotras agregaríamos también nuestra palabra de lucha: radiKal. Y que valga la redundancia.
Imaginemos los Estados Unidos, entre las décadas del 30’ y del 90’. Una mujer negra que escribe poemas y ensayos y miren qué títulos: la poesía no es un lujo; lo erótico como poder; mujeres negras, ira y rabia.

Nuestra Kerida Amiga nos trae hoy un platillo en bandeja que viene a romper con “la paz” impuesta: La transformación del silencio en lenguaje y acción. Y como esto no es todo, traemos un condimento extra, la traducción del inglés a la lengua uruguaya es de nuestra gran amiga Diana Mines. Vaya un beso con sabor a dulce de leche para nuestra traductora.
A una sociedad que prefiere a las mujeres calladas, tímidas, o con voz bajita para no molestar al patrón, hoy le venimos a avisar que lo vamos a despertar a palabrazos. Que no duerma más porque “la paz” se le acabó. Libertémonos mujeres disidentes de este sistema y abramos nuestras gargantas, dejemos salir nuestras palabras, frases tan deseosas y urgidas por expresarse. Tantos años, décadas, siglos y milenios de paz de cementerios, con miedos, ¿de qué? ¿de quién? La dictadura patriarcal nunca nos protegió, al contrario, nos sigue callando y oprimiendo. Pero para eso estamos las rebeldes, hoy las diosas quieren que de la mano, perdón, de la palabra de una bellísima mujer negra, lesbiana, poeta, nos libertemos y dejemos salir como cataratas nuestras rabias y voces milenarias. ¿Escuchan los tambores?
Con ustedes la voz de Audre Lorde
Buen provecho para todas nosotras.


La transformación del silencio en lenguaje y en acción
[3]
Audre Lorde

Muchas veces pienso que tengo que decir las cosas que me resultan más importantes, verbalizarlas, compartirlas, aún a riesgo de que sean rechazadas o malentendidas. Es que el hecho de decirlas me hace bien, más allá de cualquier otro efecto. Yo estoy acá como poeta Negra lesbiana, y sobre el significado de todo esto descansa el hecho de estar aún viva, cosa
que pudo no haber sido. Hace menos de dos meses, dos médicos -un hombre y una mujer- me dijeron que debía hacerme una operación de mama y que había entre un 60 y un 80 por ciento de posibilidad de que el tumor fuera maligno.
Entre esas palabras y la operación, hubo tres semanas de agonía en las que tuve que reorganizar involuntariamente toda mi vida. La operación ya pasó y el tumor era benigno. Pero durante esas tres semanas, tuve que volver sobre mí misma y sobre mi vida con una severa y urgente lucidez que me ha dejado aún temblando, pero mucho más fuerte.
Es una situación a la que se ven enfrentadas muchas mujeres, tal vez algunas de ustedes hoy.
Las cosas que experimenté en ese período me han ayudado a comprender mucho de lo que siento sobre la transformación del silencio en lenguaje y en acción.
Al tomar forzosamente conciencia de mi propia mortalidad, de lo que deseaba y quería de mi vida, durara lo que durara, las prioridades y las omisiones brillaron bajo una luz despiadada, y de lo que más me arrepentí fue de mis silencios. ¿Qué es lo que me daba tanto miedo? Cuestionar y decir lo que pensaba podía ocasionarme dolor, o la muerte. Pero todas sufrimos de tantas maneras todo el tiempo, sin que por ello el dolor disminuya o desaparezca. La muerte no es más que el silencio final. Y puede llegarrápidamente, ahora mismo, más allá de que yo haya dicho lo que necesitaba decir.
Sólo me había traicionado a mí misma en esos pequeños silencios, pensando que algún día iba a hablar, o esperando que otras hablaran. Y empecé a reconocer una fuente de poder dentro de mí al darme cuenta que no debía tener miedo, que la fuerza estaba en aprender a ver el miedo desde otra perspectiva.
Yo iba a morir tarde o temprano, hubiera hablado o no. Mis silencios no me habían protegido. Tampoco las protegerá a ustedes. Pero cada palabra que había dicho, cada intento que había hecho de hablar sobre las verdades que aún persigo, me acercó a otra mujer, y juntas examinamos las palabras adecuadas para el mundo en que creíamos, más allá de nuestras diferencias. Y fue la preocupación y el cuidado de todas esas mujeres lo que me dió fuerzas y me permitió analizar la esencia de mi vida.
Las mujeres que me ayudaron durante esa etapa fueron Negras y blancas,viejas y jóvenes, lesbianas, bisexuales y heterosexuales, pero todas compartíamos la lucha contra la tiranía del silencio. Todas ellas me dieron la fuerza y la compañía sin las cuales no habría sobrevivido intacta. En esas semanas de miedo agudo -en la guerra todas peleamos, sutilmente o no, conscientemente o no, contra las fuerzas de la muerte- comprendí que yo no era sólo una víctima, sino también una guerrera.
¿Qué palabras les faltan todavía? ¿Qué necesitan decir? ¿Qué tiranías tragan cada día y tratan de hacer suyas, hasta asfixiarse y morir por ellas, siempre en silencio? Tal vez para algunas ustedes hoy, aquí, yo represento uno de sus miedos. Porque soy mujer, porque soy Negra, porque soy lesbiana, porque soy yo misma -una poeta guerrera Negra haciendo su trabajo-les pregunto: ¿Están ustedes haciendo el suyo?
Y por supuesto que tengo miedo, porque la transformación del silencio en lenguaje y en acción es un acto de auto-revelación, y eso siempre parece estar lleno de peligros. Pero mi hija, cuando le hablé de nuestro tema y de mis dificultades, me dijo: "Háblales de cómo nunca eres una persona entera si guardas silencio, porque siempre está ese pedacito dentro tuyo que quiere salir, y si sigues ignorándolo se vuelve cada vez más irritado y furioso, y si nunca lo dejas salir un día dice '¡basta!' y te da un puñetazo en la boca desde adentro".
En aras del silencio, cada una de nosotras desvía la mirada de sus propios miedos -miedo al desprecio, a la censura, a la condena, o al reconocimiento, al desafío, al aniquilamiento. Pero más que nada creo que le tememos a la visibilidad, sin la cual sin embargo, no podemos vivir verdaderamente. En este país en que la diferencia racial crea una constante, aunque no explícita, distorsión de la visión, las mujeres Negras hemos sido altamente visibles por un lado, mientras que por otro nos han hecho invisibles por la despersonalización del racismo. Aún dentro del movimiento de mujeres hemos tenido que luchar, y seguimos haciéndolo, por recuperar esa visibilidad que al mismo tiempo nos hace más vulnerables: la de ser Negras. Porque para sobrevivir en esta boca de dragón que llamamos américa, hemos tenido que aprender esta primera lección, la más vital, y es que no se suponía que fuéramos a sobrevivir. No como seres humanos. Ni se suponía que fueran a sobrevivir la mayoría de ustedes, Negras o no. Y esa visibilidad que nos hace tan vulnerables, es también la fuente de nuestra mayor fortaleza. Porque la máquina va a tratar de triturarnos de cualquier manera, hayamos hablado o no. Podemos sentarnos en un rincón y enmudecer para siempre mientras nuestras hermanas y nuestras iguales son despreciadas, mientras nuestros hijos son deformados y destruidos, mientras nuestra tierra es envenenada; podemos quedarnos quietas en nuestros rincones seguros, calladas como botellas, y aún seguiremos teniendo miedo.
En mi casa se celebra este año la fiesta de Kwanza, el festival Afro-americano de la cosecha, que comienza el día después de Navidad y dura siete días. Hay siete principios de Kwanza, uno para cada día. El primer principio es Umoja, que quiere decir unidad, la decisión de luchar por la unidad y mantenerla en nosotras mismas y en la comunidad. El principio de ayer, el segundo día, era Kujichagulia: la autodeterminación, la decisión de definirnos a nosotras mismas, de nombrarnos, de hablar por nosotras en vezde ser nombradas y expresadas por otros. Hoy es el tercer día de Kwanza, y el principio de hoy es Ujima: el trabajo colectivo y la responsabilidad, la decisión de construir y conservar juntas nuestras comunidades, de reconocer y resolver juntas nuestros problemas.
Cada una de nosotras está hoy aquí porque de un modo u otro compartimos un compromiso con el lenguaje y con el poder del lenguaje, y con la recuperación de ese lenguaje que ha sido utilizado contra nosotras. En la transformación del silencio en lenguaje y en acción, es de una necesidad vital para nosotras establecer y examinar la función de esa transformación y reconocer su rol igualmente vital dentro de esa transformación. Para quienes escribimos, es necesario examinar no sólo la verdad de lo que hablamos sino la verdad del lenguaje en que lo decimos. Para otras, se trata de compartir y difundir aquellas palabras que significan tanto para nosotras. Pero en principio, para todas nosotras, es necesario enseñar con la vida y con las palabras esas verdades que creemos y que
conocemos más allá del entendimiento. Porque sólo así sobreviviremos, participando en un proceso de vida creativo, continuo y en crecimiento.
Y siempre se hará con miedo -a la visibilidad, a la dura luz del análisis, quizás al enjuiciamiento, al dolor, a la muerte. Pero, salvo la muerte, nosotras ya hemos pasado por todo eso y lo hemos hecho en silencio. Yo pienso todo el tiempo que si hubiera nacido muda, o si hubiera mantenido un juramento de silencio toda mi vida, igual habría sufrido, e igual moriría. Es bueno recordarlo, para no perder la perspectiva.
Y cuando las palabras de las mujeres claman por ser oídas, cada una de nosotras debe reconocer su responsabilidad de sacar esas palabras afuera, leerlas, compartirlas y examinarlas en su pertinencia a la vida. No nos escondamos detrás de las falsas separaciones que nos han impuesto y que tan a menudo aceptamos como propias. Por ejemplo: "No puedo enseñar la literatura de las mujeres Negras porque su experiencia es diferente de la mía". Sin embargo, ¿cuántos años han estado enseñando Platón, Shakespeare y Proust? O: "Ella es una mujer blanca, así que ¿qué puede decirme a mí?" O: "Ella es lesbiana... ¿Qué va a decir mi marido, o mi jefe?" O aún: "Esta mujer escribe sobre sus hijos, y yo no soy madre." Y así todas las otras formas en que nos sustraemos unas de otras.
Podemos aprender a trabajar y a hablar a pesar del miedo, de la misma manera en que aprendemos a trabajar y a hablar a pesar de estar cansadas. Hemos sido educadas para respetar más al miedo que a nuestra necesidad de lenguaje y definición, pero si esperamos en silencio a que llegue la valentía, el peso del silencio nos ahogará. El hecho de que estemos aquí y de que yo esté diciendo estas palabras, ya es un intento por quebrar el silencio y tender un puente sobre nuestras diferencias, porque no son las diferencias las que nos inmovilizan, sino el silencio. ¡Y quedan tantos silencios por romper!
Traducción: Diana Mines


[1] - Palestra feita no painel sobre Lesbianismo e Literatura, promovida pela Associação de Língua Moderna, em Chicago, Illinois, em 28 de dezembro de 1977.
Publicada pela primeira vez em 1978, V. 6, Sabedoria Sinistra (Sinister Wisdom). Publicada depois no livro Hermana Marginada (Sister Outsider), Ensayos y Conferencias. The Crossing Press/Feminist Series, 1984.

[2] Nota: Audre Lorde vivió entre los años 1934 y 1992. Si bien ella falleció, para nosotras siempre estará viva, por eso nos referimos a ella – y sus pensamientos – en presente.

[3] Audre Lorde - "Hermana Marginada" (Sister Outsider), Ensayos y Conferencias. The Crossing Press/Feminist Series, 1984.
(Ponencia leída en el panel sobre Lesbianismo y Literatura, de la Asociación de Lengua Moderna, en Chicago, Illinois, el 28 de diciembre de 1977. Publicada por primera vez en 1978, en el volumen 6 de sabiduría Siniestra (Sinister Wisdom).

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