lunes, 22 de junio de 2009

O que é ser lésbica?

O que é ser lésbica?[1]
marian pessah


primeiramente em versão brasileira




dedico este texto às minhas companheiras do grupo mulheres rebeldes, porque é com elas que construo semanalmente minhas idéias, e também às minhas amigas e companheiras latino-americanas e caribenhas, com quem tanto aprendo e debato.

Lembro que era de manhã quando aprendi que lésbica era uma mulher que ficava por prazer com outra mulher. Podia ser por afeto, amor, sexo, etc. Horas mais tarde, compreendi que nos dizermos lésbicas era, além disso, um fato político de visibilidade das mulheres num mundo patriarcal, muito diferente do que nomear-se homossexual feminina. A palavra homossexual está no imaginário coletivo como gay-homem e a adjetivação de feminino é arbitrária.
Entre conversas e chimarrões, nunca adotei a definição de que lésbica é uma mulher que amava outra mulher. Entendo a lesbianidade como uma categoria política e não como uma circunstância amatória / amorosa / conjuntural. Se não amo, não sou? E se não estou sendo amada, volto à norma heterossexual?

Mais adiante, na minha caminhada pela vida, me dei conta de que ser lésbica era ser anormal, isto é, fora da norma estabelecida social e culturalmente que me fora designada na hora de nascer. Estava me rebelando contra a hetero-norma e escolhia ser parte de uma dissidência sexual. Muitas de nós escolhemos esta ferramenta para fugir da caixinha outorgada, não nos conformamos com “direitos iguais” dado que isto implicaria na continuidade de uma sociedade que pretendemos modificar. Sendo radicais buscamos transformar esta sociedade pela raiz.

A partir dessa visão, fora do quadradinho normativo e com a liberdade que me outorga a indispensável ferramenta da rebeldia, tive a possibilidade de continuar observando através de condutas que se opõem às regras estritas do sistema opressor e ordenador. Comecei a desconfiar do casa-mento
[2] monogâmico idealizado em amor e prazer. Foi então que percebi não ser a única que podia sentir desejos por mais de uma pessoa ao mesmo tempo e também que esse fato, não se relaciona com o “para sempre” e com o “até que a morte”, ou nem a morte, “nos separe”.
A idéia é revisar e (re)criar as formas de vida que nos levem a viver em harmonia com nossos corpos, prazeres, desejos, amores, reinventando nossos próprios códigos. Sem propriedade privada de corpos, nem desejos instituídos. Ser uma amante em liberdade não implica, necessariamente, estar todos os dias com alguém diferente, é revolucionar práticas e formas, é reapropiarmos dos nossos corpos, é estar em permanente comunicação com nós mesmas. Com nossas fantasias e necessidades.

Enquanto ia a caminho do rio, para ver o pôr-do-sol, olhava para as pessoas, para mim, observava as roupas, posturas, abraços e percebi que o meu desejo podia não ser condizente com meu gênero. Sempre soube que não era, nem desejava ser “feminina”, mas sim feminista; ser mulher não é sinônimo de feminina. Os gêneros são muitos, variáveis, nômades. Imagino que se conseguíssemos quebrá-los, se espatifariam em um monte de pedacinhos e assim se desintegrariam. Finalmente acabaríamos com o binômio hegemônico da masculinidade versus a feminilidade e então poderíamos abrir a porta e convidar a entrar tantas variedades intermediárias e inimagináveis até agora.
O mesmo rompimento poderíamos fazer com relação às sexualidades.

Dobrando a esquina, numa ruazinha me encontrei com um livro aberto da Beauvoir, “não se nasce mulher: torna-se”. Li e continuei andando, mãos nos bolsos, e pensando o que uma mulher representa nesta sociedade: casa-mento heterossexual e monogâmico, unido a ser dona de casa para sempre, à procriação do choro obrigatório, a fazer comida para o Sr, passar suas camisas, levantar a toalha molhada do piso, sem esquecer da obrigatoriedade do chatérrimo sexo do entra e sai compulsivo. Já estava chegando ao rio, quando me perguntei dubitativa e cabisbaixa se colocava pedras nos meus bolsos e entrava lentamente na água, quando um objeto não identificado veio flutuando na minha direção. Era uma garrafa com um papel dentro! Trazia uma mensagem: as lésbicas não somos mulheres. Monique Wittig. Ah! Menina que por ti suspiro…

Um dos últimos descobrimentos é de que há lésbicas que estão, às vezes, com homens e continuam sendo lésbicas...

Depois de observar o maravilhoso pôr-do-sol no rio de Porto Alegre, volto ao começo, o que é ser lésbica?

Porto Alegre, junho de 2009



¿Qué es ser lesbiana?[3]
marian pessah

dedico este texto a mis amigas y compañeras del grupo mulheres rebeldes, porque es junto a ellas que construyo semanalmente mis ideas, también a mis amigas y compañeras latino-americanas y caribeñas, de quienes tanto aprendo y comparto.

Recuerdo que era de mañana cuando aprendí que lesbiana era una mujer que estaba por placer con otra mujer. Podía ser por afecto, amor, sexo, etc. A la horas, comprendí que decirnos lesbianas, era además, un hecho político de visibilidad a las mujeres en un mundo patriarcal, muy diferente que decirse homosexuales femeninas. La palabra homosexual está en el imaginario colectivo como gay-hombre y lo de femenino, se volvería un adjetivo arbitrario.
Entre charlas y mates, nunca adherí a la definición de que lesbiana era una mujer que amaba a otra mujer. Entiendo la lesbianidad como una categoría política y no como una circunstancia amatoria / amorosa / ¿coyuntural? ¿Si no amo, no soy? ¿Y si no soy amada, vuelvo a la norma heterosexual?

Más adelante, en mi caminata por la vida, me di cuenta que ser lesbiana era ser anormal, puesto que no seguía la norma establecida social y culturalmente que me habían asignado al nacer. Me estaba rebelando a la heteronorma y elegía ser parte de una disidencia sexual. Hay muchas que elegimos esta herramienta para corrernos del casillero otorgado, no nos conformamos con “derechos iguales” ya que eso implicaría la continuidad de una sociedad a la que pretendemos cambiar, siendo radicales, buscamos transformar esta sociedad desde la raíz.
Desde esta visión fuera del cuadradito normativo y con la libertad que me otorga la indispensable herramienta de la rebeldía, tuve la posibilidad de seguir observando a través de conductas que se oponen a las reglas estrictas del sistema opresor y ordenador. Empecé a desconfiar del casa-miento monogámico de amor y placer. Allí fue cuando vi que no era la única que podía sentir deseos por más de una persona a la vez y que ese hecho, no tuviera relación con el “para siempre” y que la muerte, o ni la muerte, nos separase.
La idea es revisar y (re)crear las formas de vida que nos lleven a vivir en armonía con nuestros cuerpos, placeres, deseos, amores, reinventando nuestros propios códigos. Sin propiedad privada de cuerpos ni deseos instituidos. Ser una amante en libertad no implica, necesariamente, estar todos los días con alguien diferente, es revolucionar prácticas y formas; es reapropiarnos de nuestros cuerpos; es estar en permanente comunicación con nosotras mismas. También con nuestras fantasías y necesidades.

Mientras iba camino al río, a ver el atardecer, miraba a la gente, me miraba, observaba las ropas, posturas, abrazos y noté que mi deseo no siempre condice con mi género. Si bien siempre supe que no era ni deseaba ser “femenina”, sino feminista, ser mujer no es sinónimo de femenina. Los géneros son muchos, variables, nómades. Imagino que si consiguiéramos romperlos, caerían un montón de pedacitos y así se desintegrarían. Finalmente acabaríamos con el binomio hegemónico de la masculinidad versus la femineidad, y entonces, podríamos abrir la puerta e invitar a entrar a tantas variedades intermedias e inimaginables hasta ahora.
El mismo rompimiento podríamos hacerlo respecto a las sexualidades.

Al doblar la esquina, en una callecita me encontré con un libro abierto de la Beauvoir, mujer no se nace, se hace. La leí y seguí caminando, manos en los bolsillos, y pensando lo que una mujer representa en esta sociedad: casa-miento heterosexual y monogámico, unido al ser ama de casa para siempre, la procreación del llanto obligatorio, hacerle la comida al Sr, plancharle sus camisas, levantarle la toalla mojada del piso, sin mencionar la obligatoriedad del aburrido sexo del entra y sale compulsivo. Ya estaba llegando al río, mientras me pregunté dubitativa y cabizbaja si ponía piedras en mis bolsillos y entraba lentamente al agua, cuando vi venir un objeto no identificado hacia mí. ¡Era una botella con un papel adentro! ¡Traía un mensaje! las lesbianas no somos mujeres. Monique Wittig. Ahhh niña, que por ti suspiro…

Uno de los últimos descubrimientos, es que hay lesbianas que están, a veces, con varones y siguen siendo lesbianas.

Después de observar el maravilloso fin de tarde sobre el río de Porto Alegre, vuelvo al comienzo, ¿qué es ser lesbiana?

Porto Alegre, junio de 2009



[1] Texto publicado no suplemento SOY, LGBT, do jornal argentino Pagina 12 http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/soy/1-820-2009-06-21.html

[2] Na língua argentina a separação das sílabas é um jogo de palavras: casamiento = casa + miento, ou seja, a casa da mentira.


[3] Texto publicado – en una versión menor - en el suplemento SOY, LGBT, del diario argentino Página 12 http://www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/soy/1-820-2009-06-21.html

4 comentarios:

nara de oliveira dijo...

o q eh ser lesbica?pois eh fiquei me questionando sobre isso e logo surgiu um conjunto de palavras q falavam q " eu nao sei se o q sou eh ser lesbica, sei o q sou neste momento um ser em constante questionamentos e observação do meu sentir e querer, sinto amordesejo amorescompartilhados por outras mulheres... isso me define como lesbica? nao sou ativista soh uma simples mulher q se posicionaquestiona e torce p bem estar da humanidade em todos os sentidos- isso eh nao ser lesbica? jah caminhei p ruas jah fui a montanha e ainda tenho muitos pontos de interrogação e algumas respostas( nada q nao possa re-pensar sobre) sou apaixonada p vida q flue em todos os seres vívidos neste planetinha - q eu amo de paixão- compartilho experiencias materiais e espirituais - enfim, td isso p dizer q gostei e muito do teu texto e mais ainda do questionamneto - afinal, o q eh ser lésbica?

mulheres rebeldes dijo...

bakana Nara!
já podes voltar a debater conosco nas reuniões, rsrsr
beijos
marian

Anónimo dijo...

Não tenho a intenção de ser intrometido, tão pouco mal compreendido.
Ao procurar uma definição mais profunda sobre a palavra LÉSBICA, encontrei o seu Blog e simplesmente não preciso mais nada procurar. Suas definições são perfeitas e irretocáveis e se me permitires, darei minha opinião masculina sobre o assunto, com o intuito de acrescentar.
Sou um homem perfeitamente satisfeito com a minha condição de macho, nada poderia me definir melhor. Durante minha vida, por instinto e por paixão, apreendo o significado de uma mulher a todo instante. É impulsivo! E quanto mais compreendo, mais amo a mulher como um todo, e a isso chamo de "Eterno feminino".
Em certa fase da vida, cheguei a concluir que todos os humanos deveriam nascer mulher, com um diferencial! Mulheres COM vagina e mulheres COM pênis.
Depois aperfeiçoei a idéia e seria mais interessante ainda, se todas nascessem com vagina, mas pudesse optar por um clitóris super desenvolvido e usável ao seu bel prazer.
Anos se passaram e atualmente percebo que a natureza da vida e dos relacionamentos é completamente feminina, por isso os casamentos heterossexuais não vingam em sua maioria. Falta aos homens, liberar o seu lado feminino e não estou falando de homossexualismo masculino, que considero isso sim, uma aberração, apesar disso, respeito quem gosta, mas "tô fora"!
Os relacionamentos entre mulheres são extremamente adequados a uma série de comportamentos de carinho, amor, sexualidade e sensualidade. No meu "mundo" pessoal não vejo absolutamente nada de errado, e chego até a invejar. Costumo dizer: Se houver outra vida, desejo nascer homem sempre, mas se nascer mulher, sem sombra de dúvidas serei lésbica.
Imagino o quanto tudo isso deve estar te deixando espantada, mas só um homem de verdade pode assumir os comentários que estou fazendo, e você sente isso sem a menor dúvida. É da natureza feminina!
Teria muito mais a falar, mas temo que não haja espaço suficiente. Parabéns pelo seu Blog e por sua coragem de falar coisas que essa sociedade "podre de hipocrisia" só sabe discriminar o que não está dentro de um padrão, que por si só já é uma discriminação.
Um grande abraço e um beijão!

Anónimo dijo...
Este comentario ha sido eliminado por el autor.