Oswald já
era quase um hábito. Nas semanas que precederam nosso casamento, ele foi quase
uma necessidade. Mesmo dentro da palhaçada dos proclamas, eu distingui o
carinho na preparação de nossa vida. Acreditei numa aproximação mais intensa,
num laço mais profundo de sentimento. Era mais nítida a possibilidade de
realização do meu desejo de lar e de ternura.
Na véspera
de nosso casamento, fui a Penha, encontrar Oswald no Terminus. Era muito cedo. Eu ia deslumbrada pela manhã e emocionada
por meus sentimentos novos. Era quase amor. Era, em todo caso, confiança na
vida e nos dias futuros. Havia em mim uma criança se formando... Beijei o ar
claro. Foi uma oração a que proferi pelas ruas.
Cheguei ao
quarto de Oswald. Não havia ninguém. Um criado do hotel me indicou outro
quarto. Bati. Oswald estava com uma mulher. Mandou-me entrar. Apresentou-se a
ela como sua noiva. Falou de nosso casamento no dia imediato. Uma noiva moderna
e liberal capaz de compreender e aceitar a liberdade sexual. Eu aceitei, mas
não compreendi. Compreendia a poligamia como consequência da família criada em
base de moral reacionário e preconceitos sociais. Mas não interferindo numa
união livre, a par com uma exaltação espontânea que eu pretendia absorvente.
Mas fingi
compreender. A intoxicação amoral já impedia minha naturalidade. O medo do
ciúme exposto. A falta de coragem da debilidade provocou a primeira atitude
falsa, um sorriso complacente para as primeiras decepções. Tomamos café juntos,
os três. A mulher, surpreendida no início, acalmou-se. E coloquei no alicerce
da vida que íamos constituir a primeira estaca de simulação. Eu me dispus a
lutar contra os preconceitos de posse exclusiva.
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