martes, 27 de julio de 2010

O Clube da Fraternidade




marian pessah

Nestes últimos dias no Brasil só se fala de um assunto. Terminado o furor do mundial, o futebol não abandona as primeiras páginas dos jornais, nem seu lugar na TV. O tema não é mais a seleção brasileira, mas o Flamengo.

Há cerca de um mês, a modelo de 25 anos Eliza Samudio, está desaparecida. Sabe-se que foi amante do goleiro Bruno Fernandes de Souza. Há muitos dias assistimos diariamente, quase que em tempo real, a procura de quem supostamente já está morta. Ou, para dizer de outro modo, assassinada o que não é o mesmo, nem é igual.

O que vemos na telinha - e que nos parece mais um filme de terror - é de fato um novo feminicídio, o assassinato cuidadosamente premeditado de uma mulher.

Logo após as primeiras duas semanas começam a sair para a luz as primeiras peças do quebra-cabeça.

Bruno, um rapaz violento, tinha ousado enfrentar a quem preside o Flamengo. Exatamente, a hierarquia máxima de seu clube. Detalhe, pela primeira vez no país do futebol, uma mulher chega a tão importante e masculino (?) cargo. Nos surpreende que um macho a tenha enfrentado?

Estamos acostumadas que nesta sociedade patriarcal, primeiro vem os homens, depois as mulheres, seja qual for o cargo que ocupem.

Antes que as coisas piorassem, decidiram que o goleiro fosse atacar a bola de outro clube. Começavam a ser movimentados os papéis para a contratação pelo Milan da Itália, quando ocorreu a Bruno deixar a casa em ordem antes de partir. Tinha cansado de “brincar” com essa amante, com quem já tinha um bebê de quatro meses, e decidiu que ela devia sumir.

Pediu ajuda aos amigões. Eles a raptaram no Rio de Janeiro e a levaram para uma fazenda em Minas Gerais. Uma vez na camioneta, um dos seqüestradores, o adolescente de 17 anos, primo do jogador, lhe deu uma coronhada na cabeça. Manchas de sangue deixaram os vidros salpicados, no melhor estilo Pulp Fiction. Provas as que se chega com a ajuda do luminol, e ajudariam a revelar as peças do quebra-cabeças.

A moça foi levada para uma fazenda em Minas Gerais, a próxima tarefa coube ao outro fraterno companheiro, um ex-policial, “experto em matar”. Este lhe ata as mãos e em seguida a estrangula. Logo a cortam em pedaços que entregam para serem devorados pelos famintos rotweillers de seu canil, treinados em comer carne humana.

Alguns jornais, no Brasil e no exterior, começaram a chamar Bruno de monstro. Rita Laura Segato – antropóloga e especialista em temas de feminicídio – considera que chamá-lo desta forma é individualizar uma ação que é coletiva. Ela chama a atenção de que este não é um fato isolado, nem uma única pessoa que atua. Bruno conta com a cumplicidade de seus amigos, do primo, do irmão e até do meu vizinho, que comenta que ele só pretendia dar um susto em Eliza.

A discussão que tem com Patrícia Amorim, sua chefa, foi por razões de violência. Eles, Bruno e outros, defendiam um jogador que havia batido em sua mulher.

Em outro momento, Felipe Melo, o mesmo que foi expulso no último jogo do Brasil por agredir a um jogador holandês, e até tentar tirar a bola dele com a mão, durante uma coletiva internacional ironizou ao referir-se a nova bola de futebol e chamou ela de patricinha. A gente bate, bate e não sai do lugar. Também tem as bolas que são bagabundas, quanto mais a gente bate, mais elas gostam.

Um irmão do goleiro foi entrevistado. Fala de Bruno com muito orgulho, suas palavras vem do interior de um casa típica de favela. Ele o defende com lágrimas nos olhos, diz que as mulheres é que são más. Sua esposa anda sempre rodeada de más companhias. Fez até o Bruno abandonar sua família sem nenhuma ajuda, mesmo sendo agora muito bem pago. E sua amante…

Nada de novo debaixo do sol. A culpa sempre será das mulheres. Todas as explicações são para demonstrar que elas mereceram a morte. Essa parece ser também a opinião dos outros jogadores, e até do verdureiro da esquina, me conta uma amiga indignada.

Esta vez o gol entrará diretinho, não haverá goleiro capaz de atacar. Hoje Bruno está encerrado em uma prisão de segurança máxima, esperando a decisão do inquérito. Ele e também sua turma de amigos fraternos.

Fim da partida?

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