miércoles, 8 de junio de 2011

Marcha contra “a mordaça gay”




por Ana Reis

O cartaz da convocação da marcha pela “família” (mulher no fogão/machão no telão) do Forum Evangélico Nacional devia fazer parte do kit anti-homofobia.

Nele vemos a bandeira do arco-íris tampando a boca de um homem. No texto, o chamado ao fim da “mordaça gay” ou seja, o Projeto de Lei que torna crime a homofobia. Assim como foi tornado crime o racismo.

Graças ao pensamento lésbico-feminista de Monique Wittig e ao pensamento de Michel Foucault que não por acaso era gay, a alusão `a “mordaça gay” pode ser compreendida.

O discurso que constrói a alteridade baseada num polo dominador, cuja referência é o homem branco, heterossexual, portavoz do deus único masculino tem, na heteronormatividade, sua base constitutiva.

Sem a norma socialmente construída da heterossexualidade, alheia a uma possível inevitabilidade imposta pela natureza, a masculinidade fica muda.

Como descreveu Nancy Chodorow, analisando Freud de um ponto de vista feminista, a masculinidade é socialmente construída no patriarcado, pelo afastamento da mãe e pelo desprezo de tudo que é associado ao “feminino”.

O que é ser homem sem o discurso que cria a feminilidade associada à fraqueza, à dependência, à impureza, às e os portadores do mal?

Como ser homem sem chamar os outros de viados? Como aceder à masculinidade agressiva sem chamar o outro — o primeiro insulto do menino – de “mulherzinha”? Como enunciar um discurso misógino racista e homofóbico – discursos do ódio — num Estado de Direito, sem a couraça da intocabilidade do discurso religioso? Ou alguém pensa num diabo loiro e de olhos azuis?

Por que se agarram com tanta força os religiosos a esse bordão?

Seria porque, como lembra a profa Iray Carone em artigo sobre a propaganda midiática fascista/religiosa nos EUA , o fascismo é antes uma prática política que uma filosofia? Sem grandes discursos, portanto.

O discurso misógino, racista e LGBTT-fóbico, aliado ao álibi da “revelação” religiosa é instrumento de dominação que se coloca acima do Direito.

Estamos em pleno desmonte da República, se é que um dia a tivemos. O Estado laico nunca chegou a se instalar plenamente no país.

Mas os tempos são outros e o enfrentamento é inevitável. Ele já está nas ruas.

*Mestre em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo pela Universidade Federal da Bahia

4 comentarios:

Wilson do Amaral dijo...
Este comentario ha sido eliminado por el autor.
Wilson do Amaral dijo...
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Wilson do Amaral dijo...

Sou homem e não vou me calar. Apóio completamente as mulheres. Os homossexuais têm o direito de escolher ser o que bem entenderem, mas não têm o direito de induzir e, tampouco, obrigar as pessoas a ser e pensar como eles pensam. Temos o direito de combater as anomalias comportamentais em bem da humanidade.

Wilson do Amaral dijo...

Sou homem e não vou me calar. Apóio completamente as mulheres. Os homossexuais têm o direito de escolher ser o que bem entenderem, mas não têm o direito de induzir e, tampouco, obrigar as pessoas a ser e pensar como eles pensam. Temos o direito de combater as anomalias comportamentais em bem da humanidade.

Wilson do Amaral
filhodewilliam@yahoo.com.br