por Ana Reis
O cartaz da convocação da marcha pela “família” (mulher no fogão/machão no telão) do Forum Evangélico Nacional devia fazer parte do kit anti-homofobia.
Nele vemos a bandeira do arco-íris tampando a boca de um homem. No texto, o chamado ao fim da “mordaça gay” ou seja, o Projeto de Lei que torna crime a homofobia. Assim como foi tornado crime o racismo.
Graças ao pensamento lésbico-feminista de Monique Wittig e ao pensamento de Michel Foucault que não por acaso era gay, a alusão `a “mordaça gay” pode ser compreendida.
O discurso que constrói a alteridade baseada num polo dominador, cuja referência é o homem branco, heterossexual, portavoz do deus único masculino tem, na heteronormatividade, sua base constitutiva.
Sem a norma socialmente construída da heterossexualidade, alheia a uma possível inevitabilidade imposta pela natureza, a masculinidade fica muda.
Como descreveu Nancy Chodorow, analisando Freud de um ponto de vista feminista, a masculinidade é socialmente construída no patriarcado, pelo afastamento da mãe e pelo desprezo de tudo que é associado ao “feminino”.
O que é ser homem sem o discurso que cria a feminilidade associada à fraqueza, à dependência, à impureza, às e os portadores do mal?
Como ser homem sem chamar os outros de viados? Como aceder à masculinidade agressiva sem chamar o outro — o primeiro insulto do menino – de “mulherzinha”? Como enunciar um discurso misógino racista e homofóbico – discursos do ódio — num Estado de Direito, sem a couraça da intocabilidade do discurso religioso? Ou alguém pensa num diabo loiro e de olhos azuis?
Por que se agarram com tanta força os religiosos a esse bordão?
Seria porque, como lembra a profa Iray Carone em artigo sobre a propaganda midiática fascista/religiosa nos EUA , o fascismo é antes uma prática política que uma filosofia? Sem grandes discursos, portanto.
O discurso misógino, racista e LGBTT-fóbico, aliado ao álibi da “revelação” religiosa é instrumento de dominação que se coloca acima do Direito.
Estamos em pleno desmonte da República, se é que um dia a tivemos. O Estado laico nunca chegou a se instalar plenamente no país.
Mas os tempos são outros e o enfrentamento é inevitável. Ele já está nas ruas.
*Mestre em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo pela Universidade Federal da Bahia
4 comentarios:
Sou homem e não vou me calar. Apóio completamente as mulheres. Os homossexuais têm o direito de escolher ser o que bem entenderem, mas não têm o direito de induzir e, tampouco, obrigar as pessoas a ser e pensar como eles pensam. Temos o direito de combater as anomalias comportamentais em bem da humanidade.
Sou homem e não vou me calar. Apóio completamente as mulheres. Os homossexuais têm o direito de escolher ser o que bem entenderem, mas não têm o direito de induzir e, tampouco, obrigar as pessoas a ser e pensar como eles pensam. Temos o direito de combater as anomalias comportamentais em bem da humanidade.
Wilson do Amaral
filhodewilliam@yahoo.com.br
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